Na altura em que se assinala mais um dia mundial da luta contra o cancro (27 de Novembro), os cientistas depararam-se com um caso invulgar. Uma japonesa, de 28 anos, desenvolveu leucemia durante a gravidez a filha, aos 11meses, também teve o mesmo diagnóstico. O estranho é que o cancro não foi transmitido geneticamente, mas através de uma espécie de infecção do útero materno, de acordo com a investigação publicada na revista Proceedings of the National Academy of Sciences. Embora se saiba que a placenta funciona como uma barreira que bloqueia a passagem de células estranhas e o próprio sistema imunitário do bebé devesse destruir as que conseguissem passar, isso não aconteceu.
Genes sofreram mutação
Ao que tudo indica, o sistema imunitário não reconheceu as mesmas como sendo estranhas e não as destruiu, porque houve uma mutação. Aliás, foi o facto de os cientistas terem descoberto que tanto a mãe, que entretanto acabou por falecer, como a filha apresentavam um gene de cancro idêntico, com uma mutação que lhes despertou a atenção. Ainda segundo os especialistas, a bebé não herdou o gene, sendo que não desenvolvei a leucemia de forma isolada.
Em comunicado, Mel Greaves do Instituto de Investigação de Cancro, no Reino Unido explica que”as células malignas maternas atravessaram a placenta até ao feto e conseguiram implantar-se porque eram visíveis para o sistema imunitário”. No entanto, o mesmo especialista garante que estes são casos raros, havendo apenas trinta suspeitas. “As hipóteses da grávida desenvolver um cancro e o passar para o filho são remotos”, garante.
Também para o Professor Dr. Carlos Santo Jorge, médico-obstreta, este é “um assunto muito pouco vulgar e pouco conhecido. Sabe-se que existe passagem de células, nomeadamente, de glóbulos vermelhos do feto para a mãe. O inverso não é tão conhecido, ou seja, passando da mãe para o filho. Numa situação destas, confesso que não sei dar uma explicação muito adequada, pois nunca ouvi nenhuma referência a uma situação desse tipo, quer seja em bibliografias, como em reuniões internacionais. De qualquer forma, existem muitas áreas desconhecidas relativamente a estes assuntos”, explica.
Para David Grant, director da Leukaemia Research, “a mensagem mais importante desta investigação fascinante é que as células podem ser destruídas pelo sistema imunitário. Usar o poder deste sistema para curar, em primeiro lugar, e, depois, proteger os doentes de leucemia é uma das nossas áreas de pesquisa”.
Artigo retirado da revista Maria nº1720